terça-feira, 8 de setembro de 2015

O SUS. A consulta. Um novo começo

Postado por Compartilhador Positivo
Boa tarde, galera! Como vai seu status sorológico?

    Pra começar o post, eu queria explicar o porquê da demora dele ter saído. A minha consulta com a infectologista do SUS estava programada para uma quarta-feira. Mas por uma informação que não me deram, ela não ocorreu. Infelizmente o sistema de saúde pública no Brasil é uma coisa inexplicável que, ao meu ver, não possui pessoas qualificadas para o cargo que exercem (não generalizando, é claro). Fui informado por uma espécie de secretária que a médica que eu deveria me consultar atendia nas segundas, quartas e sextas-feiras. Me aconselharam que eu chegasse cedo pois a quantidade de pessoas que tentam encaixe (como eu) é bem grande.
    Na quarta-feira retrasada, 26, eu acordei cedo e cheguei no local às quase oito horas da manhã. Pelo que me lembro esperei até às quase nove horas para que pudesse ser atendido e fui informado de que a médica naquela semana não estava atendendo pois estava frequentando a um congresso e que nas quartas ela atende de emergência em outro hospital que não serviria para o meu caso. E lá fui eu embora, adiando a minha consulta para a próxima segunda feira. No caso, há uma semana atrás, 31. Como eu queria que o próximo post fosse sobre essa consulta, sobre a médica e sobre o medicamento que eu provavelmente iria começar, aqui estou eu para falar sobre tudo isso enfim.
     Dia 31 de Agosto, foi a minha primeira consulta avaliativa com a infectologista. Cheguei no hospital público da minha cidade às sete e quarenta da manhã e já estava bem cheio. Nem todo mundo era para a mesma médica, mas mesmo para a minha infectologista já tinha bastante gente esperando. Pelo o que eu entendi, ela é a única médica infectologista da cidade que atende pelo SUS, e por isso a quantidade de pessoas que a procuram para doenças infecciosas (não só o HIV) é bem grande. Eu poderia fazer todo esse procedimento por médicos particulares pelo plano que eu tenho. No entanto, fui aconselhado a fazer pelo menos o início do tratamento com essa médica pois infectologistas particulares lidam com soropositivos mas não com a mesma frequência que ela. Logo, pressupõe-se que ela é uma médica com mais experiência para tratar do vírus.
     Posso dizer pra vocês que até ontem eu não reclamava do serviço de saúde pública no Brasil. Sabia que a situação era crítica pelos noticiários, jornais televisivos, internet,etc., porém, nunca tinha presenciado a precariedade que exerce esse sistema no Brasil. Você realmente só descobre, quando você presencia, precisa dele e observa o dia-a-dia de quem depende daquele tipo de serviço. Constatei o sofrimento dessas pessoas quando saí de lá e me dei conta que esperei quase seis horas para ser atendido (7h40 às 13h30). Eu era o décimo da vez e conversei com pessoas que eram décimo sétimo, décimo nono... Me desesperei por elas, confesso.
    Durante a minha espera para o atendimento, conversei com algumas pessoas, encontrei algumas que eu não queria encontrar porque eram conhecidas minhas e de alguma forma eu me senti incomodado com o medo delas desconfiarem de que sou soropositivo e isso se espalhar. Minha cidade é uma cidade pequena e essas coisas realmente acontecem. Eu já esperava que entre uma consulta e outra, eu acabaria encontrando com algumas pessoas conhecidas na fila.
    Dentre essas pessoas que conversei na espera da minha consulta, desconfiei que algumas eram soropositivas. Eu queria conversar sobre a doença, saber como elas lidam e como está a situação delas agora, mas não tive coragem de adentrar no assunto e também não me senti preparado para expor o meu lado da moeda. O máximo que perguntei foi de quanto em quanto tempo elas iam ali. Obtive respostas de quem frequenta de quatro em quatro meses e de quem já frequenta uma vez por ano. Isso me deixou feliz por elas por não ter que enfrentar toda aquela confusão uma vez ao mês, como eu terei.
    Coração na boca, ansiedade rasgando a pele, perna que não para de balançar e meu namorado falando a palavra "calma", é a minha vez de consultar. Entrei na sala, a médica me pareceu bem simpática de início. Já havia me consultado com ela antes numa consulta de 10 minutos que não deu tempo de identificar se ela era simpática ou não. Mas nessa consulta de 45 minutos, sim. Simpatia: dez.
    Perguntou com calma o que estava acontecendo e porquê eu estava ali. Pediu para ver meus exames de hemograma completo, carga viral e CD4. Olhando os exames e ao mesmo tempo comentando o que estava bom e o que estava ruim. Como de esperado, apenas a minha glicose tinha dado um resultado no limite do normal. De resto, estava tudo bem. Pediu para que eu deitasse e verificou minhas unhas dos pés e das mãos pra ver se tinha presença de micoses. Massageou meu pescoço na busca de ínguas e encontrou algumas.
    Sentei de volta à sua frente e enquanto ela anotava todos os meus resultados no meu prontuário, foi me dando conselhos e algumas explicações e esclarecendo dúvidas que meu namorado perguntava:

    - A Sra. já vai receitar o medicamento pra ele? 
    - Sim.


    -"...Bebidas alcoólicas podem aumentar os efeitos colaterais e dificultar a absorção do remédio. Mas não é uma contraindicação. A recomendação que dou é que você tome o remédio de uma a duas horas antes de ingerir a bebida." - disse a infectologista

    E com uma série de exames na mão que ela pediu, fui buscar meu medicamento. E aí entra a próxima etapa desde a descoberta do vírus em mim: o tratamento. 
    Peguei meu medicamento no mesmo dia em um postinho que fica próximo ao local onde fui atendido. Lá pediram meus dados e depois de completar uma ficha pude pegar o medicamento.
    Hoje faz uma semana que iniciei o tratamento com o antirretroviral denominado na mídia como "3 em 1" que, no caso, é apenas um comprimido contendo efavirenz, tenofovir e lamivudina. É bem prático por ser apenas um comprimido e fico feliz por não ter de tomar trinta e sete como era no início dos estudos da AIDS. Ele é um comprimido relativamente grande mas sua textura permite engolir de forma que você nem sente.


    Tomo todos os dias às 23h e os efeitos colaterais aparecem por volta de 1h da manhã. Até então, os efeitos que tenho sentido é uma sensação de embriaguez que dura até o dia seguinte num determinado horário da tarde e uma insônia que é o que mais tem me causado problemas ultimamente. Não consigo dormir. É aquela sensação horrível de estar morto de cansado e você simplesmente não consegue dormir. Lendo alguns artigos e depoimentos de pessoas que tomam esse mesmo medicamento, tirei a conclusão e estou na esperança de que esses efeitos vão sumir em algumas semanas de adaptação do meu corpo ao medicamento.
    Enquanto isso não acontece, vou carregando essas minhas olheiras horrorosas e vivendo cada dia de uma vez. Quando peguei o medicamento fiquei pensativo e estagnado na sentença "agora é verdade, agora começou a luta" como se naquele momento tivesse caído alguma ficha que não havia caído antes. Hoje, uma semana depois, já estou mais tranquilo e tomando meu medicamento sem mais pensamentos negativos. E espero que cada vez menos eles apareçam na minha cabeça.

    Para quem quiser compartilhar alguma história/experiência comigo que tenha tido com o HIV, pra dar sugestões e críticas, tem sempre os comentários dos posta e deixo disponível meu e-mail até para quem quiser tirar alguma dúvida: compositivo@hotmail.com
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